Dissertação de Mestrado da UCPel aborda a presença de mulheres trans na política

 

Nem a  pandemia do coronavírus ou a bibliografia escassa impediram que a bacharel em Ciências Contábeis, Rosana Chagas, escolhesse um  tema delicado e polêmico para obter o título de mestre pelo Programa de Política Social e Direitos Humanos (PPGPSDH) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Para escrever a dissertação “ Entre preconceitos e visibilidades: a inserção das  Mulheres Trans na política formal”, ela analisou os desafios enfrentados por três parlamentares trans eleitas em 2018 em São Paulo e Pernambuco.

A inconformidade pessoal com o fato das mulheres trans serem vistas como “corpos fora do lugar”, excluídas do mercado de trabalho, destinadas, quase sempre, ao universo da prostituição, foi o gatilho para Rosana estudar a mudança de paradigma causada pelas novas parlamentares. O estudo focou nas primeiras trans eleitas para cargos legislativos estaduais no Brasil: a deputada Érica Malunguinho e as codeputadas (integrantes de  mandatos coletivos) Érika Hilton e Robeyoncé Lima. Na época do estudo, as duas primeiras ocupavam cadeiras na Assembleia paulista e a terceira na pernambucana, todas pelo Partido Socialismo e Liberdade(PSol). Hoje Érika Hilton é vereadora pela cidade de São Paulo.

Rosana e a deputada estadual Érica Malunguinho em 2018
Aluna do PPGPSDH em encontro presencial, em 2018, com a deputada Érica Magunlinho 

Mais políticas públicas

Para construir a dissertação, orientada pelo professor Tiago Lemões da Silva,  a então aluna do PPGPSHD da UCPel, agora Mestre, entrevistou presencialmente as parlamentares de São Paulo. Já o contato com a deputada de Pernambuco foi virtual devido a  pandemia. Nas respostas as três citam a LGBTfobia, o machismo e o racismo estruturais, já que além de mulheres trans são negras, como os maiores desafios enfrentados na inserção política. 

Nas cerca de 130 páginas da dissertação, além de recuperar o histórico do universo LGBTQIA+, Rosana salienta a importância do espaço conquistado pelas deputadas, mas destaca a necessidade de estratégias para que se mantenham na política formal. “É necessário desenvolver políticas públicas que visem atender grupos sociais historicamente excluídos e evidenciar a importância das suas  representações políticas para enfrentar o preconceito, a discriminação e todas as formas de opressão que estão enraizadas na sociedade”, frisa ao salientar que essa é uma temática tão nova que teve dificuldade em encontrar textos sobre a inserção de pessoas trans no universo político.

A importância do tema

Analisar um tema como a presença de mulheres trans na política, explica a coordenadora do PPGPSHD da UCPel, Aline Mendonça, é muito significativo já que ajudam a expor o conjunto das violências e discriminações sofridas pela comunidade LGBTQIA+, a estrutura capitalista e patriarcal que produz as desigualdades sociais. “O trabalho da Rosana mostra um processo contra hegemônico no sistema político brasileiro absolutamente importante para mudar as estruturas de poder neste país. Estruturas estas que são conservadoras que historicamente privilegiam os interesses das classes e grupos dominantes”, avalia a professora. 

O Brasil registra os maiores índices de violência contra pessoas trans – só em 2020 foram 175 assassinatos de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), do mundo.

Redação: Alessandra Senna