Novas perspectivas econômicas, respeitando a natureza e garantindo a soberania alimentar dos povos, foram tema de fórum on-line, essa semana, pela Articulação Brasileira pela Economia de Francisco (ABEF). A docente do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos (PPGPSDH) da Universidade Católica de Pelotas (PPGPS/UCPel), Cristine Jaques Ribeiro, recebeu o convite para dialogar com o engenheiro agrônomo, Paolo Groppo. O encontro foi organizado pela aldeia Agriculture and Justice The Economy of Francesco, sob organização de jovens brasileiros através da ABEF, que consolida-se como movimento social e popular.
Groppo possui mestrado e doutorado no Instituto Nacional Agronômico de Paris Grignon e atua no Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura há quase 30 anos como especialista em reformas agrárias, agricultura familiar, desenvolvimento espacial e conflitos relacionados à terra. A docente da UCPel, que atua na coordenação do Fórum em Defesa da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional de Pelotas, participou sob a perspectiva de denúncia dos processos de financeirização da natureza e defesa dos modos de existências das populações que sofrem com os processos impostos pela colonização.
“Foi uma oportunidade muito importante de evidenciar a perspectiva de Francisco e Clara, conforme o chamamento feito pelo Papa Francisco, na tentativa de proteger alternativas de construção da sobrevivência dos povos, que são as pequenas economias, como por exemplo a economia solidária”, disse Cristine.
Segundo a professora, a live evidenciou que a natureza não é mercadoria e, embora não tenha valor monetário, é parte da existência de todos os seres do planeta, o que reforça a necessidade de mudança na perspectiva econômica da produção. “Estamos vivendo um momento mundial de acelerada destruição da natureza e de todos os elementos que a constituem, como a água, o ar e o alimento. Essa destruição afeta também os seres vivos, sejam eles animais ou humanos. O que estamos vivendo com a avançada introdução de agrotóxicos e transgênicos está resultando na destruição de todas as formas de existência”, ressaltou.
Cristine enfatizou ainda a importância da soberania alimentar construída a partir dos povos e territórios, especialmente os ocupados pelos grupos de existência que, de acordo com a pesquisadora, historicamente mais sofrem na sociedade com os processos de imposição colonial. “Estamos falando de territórios ocupados por mulheres, pela população indígena e negra. São esses povos que produzem o alimento, que detém o saber milenar que vem do trato com a terra, da produção do alimento agroecológico, do trato com os chás e tantos outros. Esses saberes são essenciais para a manutenção do planeta, e justamente esses povos sofrem, desde o início do processo de colonização, todas formas de imposição da morte”, afirma.
Economia de Francisco
Em março deste ano, o Papa Francisco convocou os líderes de todos os países do mundo para tratar de uma nova economia, chamada simbolicamente de “Economia de Francisco”. A perspectiva segue a linha de associação ao que seria a visão de São Francisco de Assis.
Na sequência, o Papa divulgou uma carta onde explica que a iniciativa tem como objetivo “trazer gente jovem, além das diferenças de crenças ou nacionalidade, para um acordo no sentido de repensar a economia existente, e de humanizar a economia de amanhã: torná-la mais justa, mais sustentável, assegurando uma nova preeminência para as populações excluídas”.
A partir disso, iniciaram movimentos ao redor do mundo em torno de uma mesma ideia básica – a de que a economia deve servir à sociedade, e não o contrário. A ABEF trouxe ainda para a discussão a visão de Santa Clara de Assis, que desejava construir pontes, diálogos entre todos os povos.
Redação: Mariana Santos