Mais de 41% dos jovens universitários de Pelotas apresentam dependência de internet. O dado é resultado de um estudo do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel). A pesquisa, desenvolvida pela doutora Rosângela Müller, também identificou quais fatores estão associados à dependência.
Foram entrevistados 1029 universitários matriculados no primeiro ano de graduações da UCPel, Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Instituto Federal Sul Riograndense – Campus CAVG. Através de questionários anônimos, os acadêmicos de cursos previamente sorteados informaram sobre uso de tecnologia e redes sociais, hábitos alimentares e atividades físicas, sono, sintomas depressivos e dependência de jogos.
Os resultados mostraram que 80% dos universitários, com idade média de 23 anos, utilizam o telefone celular para acessar a internet. Destes, 65% fica conectado por mais de cinco horas ao dia. E 41,7% apresentou dependência. A pesquisa também indicou que os números não diferem entre gêneros, classes socioeconômicas e tipo de universidade.
De acordo com a pesquisadora, doutora Rosângela Müller, a dependência é um transtorno no controle de impulsos. Neste estudo, o indivíduo apresenta dificuldade de administrar o tempo de uso do computador. “As pessoas se conectam para ficar uma ou duas horas, mas acabam ficando por mais de 12. Muitas vezes não dormem, se alimentam em frente às telas e apresentam conflitos familiares”, complementa.
Outra estatística apontada é a prevalência de dependência duas vezes mais frequente entre os adolescentes. Estudos salientam que as mudanças enfrentadas nessa fase da vida os tornam vulneráveis. “Muitos alunos mudam-se para centros distantes de casa a fim de estudar, acabam sentindo solidão e se refugiam na rede em busca de alivio ao estresse”, explica.
A pesquisa evidenciou uma relação entre o uso de bebidas alcoólicas, ingestão de alimentos altamente calóricos e dependência de internet. Alunos que consomem frituras, doces, alimentos industrializados e álcool demonstraram maior dependência, assim como universitários inativos, ou seja, aqueles que não praticam atividades físicas – 32% dos jovens pesquisados apresentaram sobrepeso.
Ainda foi avaliada a presença de sintomas depressivos, identificados em 19% da amostra de universitários. Estudantes com triagem alterada para depressão tiveram prevalência de dependência 83% maior. Devido ao fato, os alunos foram encaminhados para ajuda profissional. “Não sabemos se a depressão causa a dependência de internet ou o contrário”, aponta a pesquisadora.
Para que os números não se agravem, Rosângela atenta sobre a necessidade de políticas públicas que orientem o uso saudável de tecnologia. “É necessário estabelecer um equilíbrio para evitar excessos ou a substituição da vida real pela virtual”. Como exemplo, ela cita o boletim informativo sobre o uso adequado da rede para crianças e adolescentes, lançado pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
A pesquisadora também chama atenção para a carência de estudos sobre o tema no Brasil. Em função disso, os números foram comparados com dados internacionais. “Isso demonstra a relevância do trabalho para a região e para o país”, frisa.
Afim de alertar a comunidade acadêmica sobre a temática, o resultado da pesquisa deu origem a dois artigos científicos, publicados em periódicos internacionais. O estudo também foi tese do Doutorado de Rosângela, intitulada “A Prevalência de Dependência de Internet e Fatores Associados em Universitários na Cidade de Pelotas”, defendida em março de 2018.
Redação: Piero Vicenzi
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