Redução da prática de atividade física prejudica a saúde mental, avalia estudo da UCPel

Um estudo desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) confirmou os impactos negativos da redução da atividade física na saúde mental dos brasileiros adultos. A pandemia provocada pelo novo coronavírus contribuiu para o comportamento sedentário e afetou negativamente a saúde mental, aumentando os níveis de sintomas como ansiedade, estresse e, principalmente, depressão.

Desenvolvido pela pesquisadora Natália Lucca, o estudo demonstrou que 21% dos participantes classificados na categoria muito ativo ou ativo no nível de atividade física tornaram-se irregularmente ativo ou sedentários durante a pandemia. Outro dado preocupante foi com o aumento de em média duas horas na postura sentada. 

A saúde mental dos brasileiros também apresentou alteração, de acordo com os dados. 20% dos participantes que antes da pandemia eram considerados normais começaram a apresentar algum grau de depressão durante a pandemia, 16% algum grau de ansiedade, e 13,1 % algum grau de estresse. “Pessoas que praticaram menos atividades físicas apresentaram maiores sintomas depressivos durante a pandemia”, comenta a pesquisadora.  

Conforme Natália, a pesquisa foi motivada pela observação do aumento de problemas psicológicos identificados nos primeiros meses da pandemia. «Muitas pessoas também diminuiriam a prática de atividade física. Isso me instigou a estudar se existia relação entre os dois acontecimentos”, lembra. 

As diversas mudanças no estilo de vida causadas pela pandemia contribuíram ainda para o aumento do consumo de álcool e o desenvolvimento de distúrbios alimentares com consequências metabólicas e cardiovasculares. 

 

Distúrbios psicológicos 

Ao mesmo tempo em que a prática de atividade física diminuiu ao longo da pandemia, os sintomas de distúrbios psicológicos apresentaram crescimento. “As reações psicológicas relacionadas às pandemias incluem comportamentos adaptativos, angústia emocional e respostas defensivas, com sentimentos de ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse e comportamentos de esquiva”, explica a pesquisadora.   

Além de se manifestar em pessoas que já tinham algum histórico desses distúrbios, os sintomas também foram identificados em pessoas sem o histórico de problemas de saúde mental. “A inatividade física e a saúde mental precária estão entre os fatores de risco mais importantes para a morbidade por doenças graves. Isso vale, principalmente, para adultos mais velhos e populações de pacientes com doenças crônicas, que correm um risco maior de mortalidade induzida por Covid-19”, ressalta a pesquisadora.

O estudo reforça que o exercício regular é um ótimo tratamento para problemas de saúde mental. A atividade física é capaz de aumentar a expressão de neurotrofinas como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) que possui efeito positivo sobre a plasticidade sináptica e memória. 

“Recentes estudos têm demonstrado que pacientes com transtornos neuropsiquiátricos possuem níveis séricos mais baixos de BDNF. Além disso, os efeitos ansiolíticos do exercício físico regular estão relacionados à alteração no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e à mediação do sistema opióide endógeno, que estão envolvidos na reatividade ao estresse, ansiedade, humor e respostas emocionais”, lembra Natália. 

 

Metodologia da pesquisa 

588 pessoas, entre 18 e 60 anos, responderam a pesquisa divulgada através das redes sociais Instagram, Facebook, WhatsApp e e-mail, no período de agosto a outubro de 2020. As questões foram elaboradas a partir de dois questionários: Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21). 

Mesmo a pesquisa tendo sido aplicada no segundo semestre do ano, período menos restrito da quarentena, os dados obtidos foram relevantes. Conforme a pesquisadora, os índices poderiam ter sido ainda maiores caso a aplicação das questões tivesse ocorrido no primeiro semestre. “No período de realização da pesquisa os centros de treinamento e academias já estavam funcionando com capacidades reduzidas. Muitas pessoas já haviam retornado às suas atividades normais, e mesmo assim os resultados foram muito significativos”, finaliza.

 

Redação: Rita Wicth – MTB 14101

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