Crianças filhas de pais, ou criadas por responsáveis, que apresentam transtornos mentais têm probabilidade duas vezes maior de desenvolver os mesmos problemas emocionais e comportamentais. O dado é resultado de um estudo do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel), que teve por objetivo a avaliação da saúde mental de crianças da Rede Pública Municipal de Educação.
Foram avaliados 596 estudantes com idades entre sete e oito anos, de 20 escolas de diferentes bairros de Pelotas. A pesquisa também apontou relação entre classes socioeconômicas e problemas emocionais e comportamentais. De acordo com a psicóloga responsável pelo estudo, Suelen de Lima Bach, as crianças de famílias mais pobres apresentaram tendência 71% maior a transtornos mentais.
Da amostra de alunos, 30% manifestaram problemas emocionais e comportamentais. Ao comparar com outras regiões do país, o número aparece como intermediário. Na região Sudeste, por exemplo, a prevalência é de 18,7%. Já na região Nordeste, 47,7%.
A pesquisa foi realizada através da aplicação de um instrumento de rastreio nos “pares” (crianças e pais), com o intuito de verificar possíveis problemas emocionais e comportamentais. “Quando trabalhamos com crianças, dependemos de informações dos pais”, explica a pesquisadora. Para os pais e responsáveis, em específico, foi utilizado um instrumento de diagnóstico. Após a coleta, computação e análise dos dados, foi elaborado formulário individual de cada criança, contendo aspectos nutricionais, odontológicos, mentais e cognitivos.
Esses resultados foram devolvidos aos pesquisados através de reuniões nas instituições de ensino. Junto com os formulários, os responsáveis receberam material, elaborado por uma equipe multidisciplinar, com dicas e locais para acompanhamento e tratamento dos transtornos. “Enquanto pesquisadora, acredito que a devolução do que enxergamos foi uma parte muito importante, pois fomos além da publicação de artigos que são lidos no meio acadêmico”.
Segundo a psicóloga e pesquisadora, a investigação nessa faixa etária é importante para detectar precocemente problemas de saúde mental. “As crianças já dão sinais através do seu comportamentos e emoções que não estão bem”, comenta. Também, para se pensar em medidas de prevenção. Como exemplo, Suelen destaca o esforço da UCPel em possibilitar acesso a tratamentos na área de saúde mental gratuitos e de qualidade para pais e filhos.
Desenvolvida entre setembro de 2015 e novembro de 2016, a pesquisa integra um estudo que pretende avaliar os fatores relacionados ao estado nutricional de crianças. A parte referente à saúde mental foi analisada pela psicóloga e originou a dissertação de seu mestrado intitulada “Problemas Emocionais e Comportamentais: um estudo de Base Escolar no Sul do Brasil”, que teve a orientação da professora Janaína e coorientação da docente Mariane Molina.
Redação: Piero Vicenzi
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