Tese do PPGSC analisa saúde mental e alimentação infantil

Para muitas pessoas a relação com os alimentos nem sempre é tranquila. Comer pode ser um ato de alívio emocional, mais do que uma necessidade física. Quando inicia e o que motiva essa relação conturbada foi o ponto de partida da tese de doutorado intitulada “Qual a participação da saúde mental no comportamento alimentar em escolares?”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) pela psicóloga, e agora doutora, Paulinia do Amaral. A pesquisa analisou a associação entre a saúde mental de crianças, pais/cuidadores e o comportamento alimentar infantil obesogênico – caracterizado pela ingestão de alimentos por algum motivo que não é a fome. 

O estudo, iniciado ainda no Mestrado pela psicóloga, fez parte da pesquisa “Infância saudável em contexto: uma investigação multidisciplinar”, realizada em Pelotas. A proposta, explica Paulinia, era entender porque as crianças em idade escolar, comem mais em alguns momentos e menos em outros. Outra motivação para a pesquisa foram os altos índices nacionais e mundiais de sobrepeso e obesidade infantil, que muitas vezes acarretam o desenvolvimento de doenças. 

 

Método e resultados

A coleta de dados foi realizada durante um ano e meio, em 20 escolas municipais. Em um estudo transversal, foram avaliadas 620 crianças, de sete a oito anos. A análise ocorreu em dois momentos: na escola e na família. O estudo investigou separadamente a saúde mental dos pais/cuidadores associada ao comportamento alimentar dos filhos, e a saúde mental das crianças e a forma como se comportavam diante da comida. As análises constataram que dois comportamentos alimentares estavam alterados: as crianças comiam mais diante de alterações emocionais (como medo, ansiedade e outros sentimentos) ou por serem mais suscetíveis a aparência dos alimentos (sabor e cheiro), fazendo a ingestão mesmo sem fome.

Quando foram analisados os dados de saúde mental dos pais/cuidadores, ao comparar responsáveis pelas crianças com e sem sintomas depressivos, a análise observou que os escolares apresentaram alterações nos dois comportamentos alimentares quando os adultos apresentavam sintomas de depressão. “Os pais/cuidadores por não estarem bem emocionalmente podem oferecer mais alimentos às crianças. É uma estratégia muito comum, as pessoas comerem para aliviar as emoções. Isso pode ser uma explicação para a associação da saúde mental dos pais à frequência de comportamentos obesogênicos das crianças”.

No momento em que foram analisadas apenas as crianças, o estudo identificou que aquelas que apresentavam problemas comportamentais e emocionais, também mostraram alterações nos dois comportamentos alimentares avaliados. “Isso mostra que os indicativos de problemas de saúde mental das crianças além de trazer prejuízos emocionais e relacionais, também atingem a forma de se relacionarem com a alimentação.” Do total de estudantes avaliados, 44,5% estavam com sobrepeso ou obesidade.

 Agir para prevenir

O trabalho, destaca a orientadora da tese, professora Fernanda Pedrotti, alerta para a importância do cuidado com a saúde mental tanto das crianças quanto de seus cuidadores. A conclusão da análise sugere a importância de se avaliar e investigar a saúde mental das crianças e de seus cuidadores como uma estratégia de tornar saudável o comportamento alimentar infantil. “Quem sabe até ampliar, fazendo uma orientação nutricional a esses cuidadores, com um maior nível de informações nutricionais para que sejam aprendidas, colocadas em prática e repassadas, então, às crianças. Além, é lógico, de avaliar a saúde mental das crianças e dos seus cuidadores,contribuindo para um ambiente saudável”, afirma a docente.

Para a autora do trabalho, os fatores apresentados na tese podem ser ferramentas de políticas públicas voltadas à prevenção de doenças ligadas à obesidade infantil, assim como para práticas adotadas pelos profissionais que acompanham crianças com problemas emocionais ou comportamentais. “Estabelecer um bom relacionamento com a alimentação cedo é importante para toda a vida”, conclui a doutora pelo PPGSC da UCPel.

 

Redação: Alessandra Senna

Powered by WPeMatico