Além dos prejuízos físicos e financeiros, danos psicológicos começam a ser diagnosticados em vítimas e, até mesmo, naqueles que não tiveram suas casas atingidas pelas enchentes do Rio Grande do Sul. A sensação coletiva é conhecida por muitos: ansiedade. Mas a cheia histórica tem evidenciado uma definição pouco usada no Brasil: “ansiedade climática”. Mas o que fazer para prevenir a até controlar essa sensação?
De acordo com o professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas, doutor em Psicologia Clínica, Luciano Dias de Mattos Souza, o termo “ ansiedade climática” tem sido usado com mais frequência porque ajuda a descrever a sensação relacionada às inquietações sobre mudanças climáticas e eventos climáticos extremos, como o que os gaúchos estão enfrentando. “Esse tipo de ansiedade envolve medo e preocupação sobre o impacto das mudanças no ambiente e na vida humana, diz respeito a uma preocupação mais abrangente”, explica.
Por ser uma resposta psicológica, administrada por processos biológicos, que visa a sobrevivência e a adaptação do indivíduo, a ansiedade, no geral, é até saudável. Ela pode ser causada por vários fatores, mas no contexto atual, explica Souza, existe uma causa específica relacionada a eventos traumáticos, como as enchentes. “Outro aspecto importante se refere à temporalidade. Nos transtornos de ansiedade, usualmente o início do funcionamento ansioso é progressivo e lento. Já no contexto da ansiedade relacionada às enchentes, seu início ocorre de forma aguda após o evento”, ressalta o docente.
As consequências
As experiências diretas com fatos em que, principalmente, há prejuízo físico, podem levar ao desenvolvimento de condições patológicas como o Transtorno do Estresse Agudo, Transtorno de Adaptação ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático, gerando forte medo de novos desastres. “Já para aqueles que não são diretamente afetados, é provável que a observação do contexto do outro promova preocupação com amigos e familiares afetados, sentimento de impotência que acaba mobilizando empatia”, descreve Souza.
Há ainda a possibilidade de que, o aumento na frequência e intensidade de desastres naturais devido às mudanças climáticas, promovam alterações de organização pessoal e social. Outro ponto de alerta para o professor da UCPel é a “exposição excessiva à mídia que também pode aumentar o sentimento de vulnerabilidade e medo”.
Como agir
Pessoas atingidas pelas enchentes, que estão em abrigos ou sofreram importantes perdas, estão sujeitas a desenvolver transtornos mentais após a experiência traumática. Para estes casos, a psicóloga e professora da UCPel, doutora em Saúde e Comportamento, Karen Jansen, orienta o diálogo sobre o que ocorreu. “Para quem vivenciou a experiência traumática é importante conversar sobre o assunto com pessoas que tenham empatia e sejam capazes de ouvir sem julgar ou opinar sobre a experiência”, salienta que, nesse momento, além do acolhimento, as pessoas precisam que suas necessidades básicas sejam atendidas, daí a importância das ações voluntárias.
Para quem não teve perdas ou mudanças relevantes com as cheias, mas que tem sintomas de ansiedade as orientações são:
– evitar acompanhar sistematicamente as informações sobre a tragédia;
– fazer exercícios de respiração;
– fazer um esforço para manter a rotina de atividades laborais e atividade física.
Redação Alessandra Senna
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