Metade dos alunos da Rede Pública Municipal de Educação está com sobrepeso e obesidade. O dado é resultado de estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel). Com objetivo de analisar o comportamento e o estado nutricional infantil, a pesquisa avaliou 627 crianças, entre sete e oito anos, em 20 escolas da cidade.
Além das crianças, os familiares compuseram a avaliação voltada, inicialmente, para o desenvolvimento motor e estado nutricional infantil. Conforme conta a psicóloga e pesquisadora, Paulinia do Amaral, o projeto cresceu e agregou a questão do comportamento alimentar.
Para compor o estudo, Paulinia inseriu uma escala utilizada na avaliação do comportamento alimentar infantil. Composta por 35 perguntas, a tabela analisou oito atitudes das crianças observadas pelos pais e as dividiu em dois grupos: um de atração e outro de evitamento da comida.
Resposta a comida, prazer em comer, sobreingestão emocional (comer mais em função de alguma alteração) e desejo de beber bebidas açucaradas fizeram parte da primeira subescala. A segunda compreendeu saciedade, ingestão lenta, seletividade e subingestão emocional.
Através das informações coletadas nos parâmetros da escala e dos pesos e medidas
dos alunos, os pesquisados foram classificados em peso ideal, excesso de peso ou sobrepeso. De acordo com a orientadora da pesquisa, professora Janaína Motta, as crianças com sobrepeso e obesidade apresentaram mais características do grupo de atração.
A orientadora ressalta o fato de ser uma pesquisa transversal, ou seja, os dois dados – comportamento alimentar e estado nutricional – foram coletados juntos. Assim, não foi possível observar o que vem antes ou depois. “Não identificamos se o excesso de peso foi causado pelo comportamento alimentar ou o contrário. Para isso, entendemos ser necessário um estudo para acompanhar as crianças”, explica.
Janaína ainda atenta para os problemas causados pela obesidade. De acordo com a professora e nutricionista, o excesso de peso aumenta probabilidades de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Essas doenças, segundo ela, atingem mais de 60% da população adulta do país. “A chance de crianças, hoje com oito anos, continuarem acima do peso na vida adulta é alta. Se a gente não fizer nada, o problema poderá ser maior”, alerta.
Com o objetivo de atuar na reversão da situação, o grupo responsável pela pesquisa elaborou uma ficha de cada aluno, devolvida aos pais junto com orientações. A pesquisadora Paulinia acredita nas crianças como principais agentes de mudança.
Conforme explica, é mais fácil encontrar nortes de atuação quando comportamentos frequentes entre a população estudada são identificados. “Ainda temos muito a estudar, porém os resultados são sólidos e apontam direções”, pontua a pesquisadora.
Os resultados da pesquisa originaram a dissertação de mestrado de Paulinia, intitulada “Comportamento Alimentar e o Estado Nutricional: um estudo de base escolar na cidade de Pelotas”. A coleta de dados ocorreu entre agosto de 2015 e novembro de 2016.
Para a tese de doutorado, a pesquisadora e a orientadora pretendem acrescentar uma nova análise aos dados coletados. “Acreditamos que o comportamento alimentar está envolvido com outros aspectos da saúde, como a saúde mental. É o que queremos estudar no doutorado”, finaliza Paulinia.
Redação: Piero Vicenzi
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