Idosos pelotenses com depressão possuem duas vezes mais riscos de sofrer com ausência de dentição funcional se comparados àqueles que não apresentam a doença. Esse é um dos dados observados pelo cirurgião-dentista Galileu Galli, em dissertação que apontou associação entre depressão e perda dentária na terceira idade. O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel).
Ao todo, 1.451 idosos com 60 anos ou mais e que residem no município foram entrevistados. Com base nos dados analisados, Galli apontou que 15,2 % dos idosos pelotenses apresentaram algum sintoma depressivo. Além disso, foi possível identificar que a doença influência em tarefas que envolvem o autocuidado, como, por exemplo, a ausência ou deficiência de higienização bucal.
Dos idosos entrevistados, 60,9% apresentaram perda dentária severa e 82,7% não possuem dentição funcional, pois preservam menos de 21 dentes naturais. Dividindo os respondentes em grupos, Galli conseguiu ainda identificar um perfil de indivíduo com maior risco de desenvolver doenças bucais. Dos entrevistados, mulheres idosas das classes econômicas D e E, viúvas e com baixa escolaridade apresentaram maiores índices de enfermidades.
De acordo com Galli, o comportamento de higienização deficitário resulta em doenças como cárie e periodontite (infecção gengival grave que deteriora as gengivas e pode danificar o osso maxilar), enfermidades responsáveis por acarretar a ausência dentária. “A falta de dentes é causadora de desordem na qualidade de vida dos indivíduos entrevistados, afetando principalmente sua aparência e bem-estar”, completa o cirurgião-dentista.
No âmbito biológico, a depressão pode estar associada à diminuição do fluxo salivar e ao comprometimento do sistema imunológico. Conforme o estudo, a hipossalivação e as alterações induzidas na imunidade salivar aumentam o risco do desenvolvimento de doenças bucais.
Segundo levantamento das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira – Projeto Saúde Bucal Brasil 2010, 53,7% dos idosos brasileiros sofrem com edentulismo – perda total dos dentes naturais. Em Pelotas, a média fica em torno de 39,3%.
Execução da pesquisa
Os dados utilizados na dissertação são de um estudo transversal de base populacional ligado ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (PPGE/UFPel). A pesquisa, aplicada em 2014, avaliou as condições de vida e saúde dos idosos pelotenses.
Os quase 1500 entrevistados precisaram responder a informações demográficas, socioeconômicas, comportamentais e de saúde. Para isso, foi usado um questionário geral, outro específico para saúde bucal e também uma escala para medir a depressão. Dos respondentes, 63% eram do sexo feminino e 37% do sexo masculino.
De acordo com Galli, a associação entre depressão e perda dentária ainda é uma temática pouco explorada, principalmente em âmbito municipal. “O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional que apresenta crescimento constante foram minhas motivações para desenvolver o estudo”, comenta o dentista.
Denominada Associação entre depressão e perda dentária em idosos na cidade de Pelotas, a dissertação está disponível para consulta no site do PPGSC, pos.ucpel.edu.br/ppgsc.
Redação: Karina Kruschardt
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