Uma pesquisa inovadora, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel), comprovou a eficácia de um tipo de intervenção terapêutica breve e de baixo custo para reduzir os índices de depressão em gestantes e puérperas. Com apenas seis sessões da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), quatro em cada cinco mulheres deprimidas participantes da pesquisa ‘Gravidez Cuidada, Bebê Saudável’ passaram a não ter mais sintomas, e o benefício ainda se prolongou para o período do pós-parto.
O estudo, iniciado em 2016 e financiado pela Grand Challenges Brazil (Bill & Melinda Gates Foundation), Ministério da Saúde e CNPQ acompanhou cerca de mil mulheres a partir do final do primeiro trimestre de gravidez até que seus bebês completassem 18 meses de vida. Responsável pela pesquisa, o coordenador dos programas de stricto sensu da UCPel, professor Ricardo Pinheiro, frisa que é a primeira vez no país que uma intervenção baseada na terapia cognitivo comportamental breve é testada no período gestacional e pós-parto em larga escala.
Com dados animadores, os resultados do estudo podem contribuir para reduzir o alto índice de mulheres que desenvolvem depressão na gestação, que tem média nacional em torno de 12% a 20%. Por ser de fácil replicação e de baixo custo, a intervenção breve com TCC pode ser testada, replicada e ampliada a outros serviços de saúde do país, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo
Para mensurar os possíveis benefícios das sessões de TCC entre as gestantes, o programa ‘Gravidez Cuidada, Bebê Saudável’ dividiu as participantes entre saudáveis, com risco para depressão e com diagnóstico de depressão confirmado. O primeiro grupo foi nomeado como controle e acompanhado. As mulheres integrantes dos outros dois grupos frequentaram até oito sessões de terapia com psicólogas e residentes de psiquiatria, uma vez por semana.
Conforme explica o professor Pinheiro, o principal objetivo das sessões foi auxiliar na identificação de sintomas como tristeza e ansiedade, assim como também ensinar algumas técnicas para lidar com esses sentimentos. Após os encontros, o programa avaliou sua eficácia para prevenir a depressão entre as consideradas de risco para a doença e tratar as depressivas em três momentos: ao final das sessões; já no terceiro trimestre de gestação; no terceiro e 18º meses após o parto.
Resultados
A eficácia das sessões de TCC foi elevada para a redução de casos de depressão e para o desenvolvimento da doença nas gestantes integrantes do grupo de risco. Quatro em cada cinco deprimidas passaram a não ter mais sintomas e o benefício se prolongou para o pós-parto.
De acordo com o professor Pinheiro, o programa se mostrou ainda mais eficiente para mulheres de baixa renda e escolaridade. “Comparativamente, mulheres de níveis socioeconômicos e escolaridade mais baixos responderam um pouco melhor a intervenção quando comparadas às gestantes com mais escolaridade, reforçando assim a ideia que se possa utilizar tal intervenção para populações com essas características”, completa.
O estudo ainda mostrou um duplo efeito tanto para tratar as mulheres quanto para promover maior desenvolvimento infantil de seus filhos. Ele não só reduziu os casos de depressão como também impediu que as gestantes de risco caminhassem para a doença.
As grávidas depressivas que não aceitaram participar das sessões tiveram em torno de 11 vezes mais risco de depressão pós-parto quando comparadas às gestantes não deprimidas. A prevalência do problema após o nascimento do bebê foi de 7,2%, consideravelmente menor do que a média de 12 a 20% encontrada em outros estudos. De acordo com Pinheiro, esse índice menor obtido pelo estudo da UCPel, possivelmente, se deve às intervenções realizadas que reduziram a prevalência e a incidência de depressão pós-parto
Desenvolvimento dos bebês
Os benefícios positivos da terapia identificados nas mães também refletiram no desenvolvimento dos bebês. Após o parto, a pesquisa seguiu com o acompanhamento da mãe e bebê aos três e 18 meses de vida para verificar se a intervenção influenciou no desenvolvimento infantil da criança.
Na avaliação dos três meses de idade, os filhos das mães deprimidas e que fizeram terapia tiveram um melhor desempenho na avaliação motora que as crianças de gestantes não tratadas. Os bebês obtiveram a mesma boa performance nos testes que os filhos de mulheres saudáveis ou que estavam em risco para a doença e participaram dos encontros com a psicóloga.
Devido aos resultados preliminares obtidos, o projeto recebeu financiamento adicional do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para estender a avaliação dos efeitos da TCC ao segundo ano de vida das mesmas crianças acompanhadas até agora.
Atualmente, o grupo avalia o resultado de uma intervenção de estimulação ao desenvolvimento neurocognitivo dos filhos de mães deprimidas aos 18 meses após o parto, uma intervenção realizada por agentes de saúde e estagiárias de psicologia.
Auxílio para lidar com as emoções
Elisa Hepp Moraes, integrante da pesquisa, começou a entender melhor as emoções provocadas pela gravidez a partir das sessões disponibilizadas pelo programa ‘Gravidez Cuidada, Bebê Saudável’. “Antes de saber da existência da pesquisa, eu estava muito perdida, com vontade de sumir, me sentindo sozinha e abandonada, achando que minha vida tinha acabado”, lembra.
Com o andamento das sessões de TCC, Elisa começou a entender melhor o papel de cada pessoa nas situações e de como lidar com seus sentimentos. “Passei a entender que era de minha responsabilidade aprender a lidar com as minhas emoções, buscando pensar mais em mim, no que eu sentia e como estava sendo para mim. Foi muito importante ter esse acesso à terapia, durante uma gravidez não planejada e num momento tão importante e tão difícil”, diz.
Além das sessões com psicólogos, Elisa também coletou amostras de sangue para tentar encontrar marcadores biológicos da depressão e respondeu a vários questionários, com foco no seu bem-estar e do bebê. “A terapia me ajudou a enfrentar esse momento muito difícil, foi muito importante participar e poder conversar com a profissional que acabou se tornando muito marcante em minha vida nesta fase. Após acabar as sessões pela pesquisa, continuei fazendo terapia particular com a mesma profissional”.
Após o parto, a pesquisa continuou acompanhando Elisa e seu bebê, que até o momento participou de duas avaliações físicas. “Participar do programa foi muito importante para a sensação de bem-estar durante a minha gestação, no meu pós-parto e para o desenvolvimento do meu do bebê”.
Redação: Rita Wicth – MTB 14101
Com informações do site Grand Challenges Brazil
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