Em uma avaliação rápida, não tem como combinar a batida do tambor com o hip hop. Mas, para o doutor Aleksander Antunes não apenas combina como também existem muitas conexões, começando pela mesma origem: a matriz africana. Em estágio pós-doutoral realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Aleksander pretende articular os dois ritmos para, quem sabe, ver nascer pelo menos uma batida inspirada no tambor sopapo.
Além da construção de novas pontes, a pesquisa também pretende projetar as duas cenas existentes na Região Sul. De acordo com o pós-doutorando, o encontro entre os saberes percussivos e os saberes do rap pode demonstrar a força da identidade gaúcha negra, que prossegue bastante invisibilizada. “Temos aqui uma tradição muito semelhante às tradições nordestinas, mas pouco explorada. Lá os elementos da chamada cultura popular se baseiam no tambor, em discussão a identidade negra”, conta.
Foi devido à nacionalidade dupla – brasileiro e salvadorenho – e a atual residência na cidade de Recife, ter crescido em Pelotas e conhecer de perto as cenas do hip hop existentes no município, no nordeste e em países da América Central, que Aleksander percebeu a falta de diálogo existente entre a cena percussiva sulista e o hip hop. “Essa crítica eu venho traçando desde a experiência que tive em Pernambuco. Em Pelotas, existe uma série de atividades relacionadas à percussão, mas o hip hop não dialoga”, avalia.
A partir da aproximação com a cultura negra do tambor, que nos dias de hoje possui movimento bem constituído, a proposta é ajudar na construção de uma identidade para o movimento hip hop local. Conforme o doutor, o resultado pode auxiliar no desenvolvimento de uma matriz para o movimento hip hop, podendo ser explorado até de forma vendável para o mercado da música.
E para que isso ocorra, reuniões com integrantes da associação do hip hop estão ocorrendo na UCPel. A articulação de relações e a intervenção com os coletivos e cenas devem resultar em um festival de rua de hip hop, que contará com a participação de rapers de outros países da América Central e Uruguai. “Queremos que esse evento ocorra junto ao aniversário de 20 anos da Rádio Com. A emissora foi muito importante para a cena do hip hop local”, comenta.
Trajetória
Aleksander Antunes é formado em Jornalismo pela UCPel e Letras pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Tem mestrado em Estudos Internacionais pela Universidade de Barcelona e doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco, experiência em que começou a trabalhar com a trajetória centro-americanista em parceria com o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais. Também participou de programa de pós-doutorado na Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS).
O convite para participação no PPG da UCPel foi a oportunidade de Aleksander voltar a cidade natal e ainda desenvolver o projeto voltado ao hip hop. “Essa escolha não é aleatória ou excêntrica. Tem haver com a minha trajetória enquanto centro-americano e salvadorenho”, comenta.
De acordo com o pós-doutorando, o extremo sul é uma região periférica em relação ao eixo brasileiro, assim como a América Central é periférica em relação ao eixo latino-americano. “Então, vamos conectar essas periferias, essas subalternidades a partir de espaços concretos que nesse caso tem a sorte de ser também um espaço cultural e é uma temática que me atrai na discussão cultura-política”, diz. Aleksander ficará vinculado ao PPGPSDH até junho de 2020.
Redação: Kerolin Lulhier e Rita Wicth – MTB 14101