Mais da metade dos nascimentos no Brasil são por parto cesárea. O número elevado de cirurgias acarreta em aumento de prematuros no país, conforme estudo coordenado pelo professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Fernando Barros. A pesquisa analisou os 3 milhões de nascimentos em 2015 registrados no Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde.
O estudo, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Ministério da Saúde, Centro Latino-Americano de Perinatologia da Organização Mundial da Saúde (Uruguai) e Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisou a influência das taxas de cesarianas na idade gestacional dos bebês. A hipótese comprovada foi a associação das cirurgias com o aumento de nascimentos pré-termo e termo precoce.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nascimentos pré-termo, ou prematuros, ocorrem antes das 37 semanas de gestação. Aqueles entre 37 e 38 semanas são chamados termo precoce, uma vez que o período ideal é entre 39 e 41 semanas de gestação. Ainda de acordo com dados de 2016 da OMS, o Brasil ocupa segundo lugar entre os países com maior número de cesáreas no mundo, com 55,6% dos nascimentos através de intervenção cirúrgica.
Essa epidemia de cesáreas acarreta problemas a curto, médio e longo prazo na criança, conforme aponta o pesquisador. «A causa é o nascimento antes do tempo, pois o sistema nervoso central ainda não está formado», explica. Com isso, após o parto, o recém-nascido pode ter dificuldade de alimentação, se desnutrir e inibir o desenvolvimento neurológico. «No futuro essa criança poderá ter problemas de aprendizagem e cognição», completa.
Para explicar a teoria, Barros cita dois estudos com pré-termos. Um deles, uma pesquisa escocesa que avaliou o desenvolvimento escolar e a idade gestacional. «A cada semana a mais de gravidez, até 41 semanas, o desempenho escolar é muito melhor», conta. Outro, mostrou que pessoas dependentes de seguro social governamental são, predominantemente, nascidos antes de 39 semanas.
De acordo com o pesquisador, um conjunto de fatores têm se pronunciado favoráveis à cesariana nas últimas décadas. Do ponto de vista médico, a cirurgia se tornou uma tendência. Já entre as mães, a cesárea é uma opção para evitar a dor e o trabalho de parto prolongado. Mas, por ser uma operação cirúrgica, apresenta maiores riscos em comparação com parto normal. «Existe uma falsa segurança da cesárea. Isso é perigoso», alerta.
O artigo, publicado na revista inglesa British Medical Journal (BMJ)- um dos periódicos mais influentes do mundo na área médica -, analisou municípios brasileiros com diferentes taxas de cesarianas. Em Pelotas, por exemplo, as intervenções cirúrgicas ultrapassam a média nacional, e são responsáveis por 65% dos nascimentos. «Em 33 anos o número de cesáreas aumentou 39% na cidade», frisa.
No entanto, os partos cesárea não são os únicos responsáveis pelos nascimentos prematuros. Estresse, cigarro, doenças e baixa renda também influenciam. Apesar disso, diversas entidades tomam atitudes para diminuir o excesso de cesarianas. Uma delas, é a discussão do tema com a população. «Uma cesariana, caso tenha que ser feita, deve ocorrer depois das 39 semanas e não antes», finaliza.
Redação: Piero Vicenzi
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