Pesquisa inovadora da UCPel busca relação entre microbiota intestinal e transtornos de humor

O Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel) começa no mês de agosto uma nova pesquisa voltada à relação existente entre a microbiota intestinal e transtornos de humor. O estudo de base populacional será um dos poucos no país a contar com a participação de seres humanos, e irá comparar bactérias presentes no intestino de indivíduos com Transtorno Bipolar, Transtorno Depressivo Maior (depressão) e saudáveis. 

Liderado pela pesquisadora Fernanda Pedrotti Moreira, o projeto ainda busca identificar substâncias inflamatórias no sangue para auxiliar no diagnóstico dos transtornos de humor, especialmente o bipolar e a depressão. Atualmente, o diagnóstico da doença segue sendo apenas clínico. “Não existe nada ambulatorial que consiga identificar os transtornos e que ajude na definição do diagnóstico”, explica.

Há cerca de cinco anos, com o mapeamento completo do microbioma humano, começaram diversas pesquisas tentando identificar bactérias e a sua importância para o funcionamento do corpo. De acordo com Fernanda, na literatura ainda não se encontra estudos consistentes com seres humanos sobre a relação entre a microbiota intestinal e transtornos de humor.

Devido a isso, a pesquisa proposta pelo Programa de Pós-Graduação da UCPel faz parte de um estudo populacional composto por 1500 pessoas e realizado desde o ano de 2008. Para compor a mostra do novo estudo, 230 indivíduos diagnosticados com transtorno bipolar ou depressão irão retornar para uma nova etapa de acompanhamento psicológico e coleta de amostra fecal e de sangue.

A partir do resultado dos exames, serão analisados os tipos de bactérias presentes na microbiota de indivíduos com transtorno bipolar e depressão. Após, os resultados dos dois grupos ainda serão comparados com o chamado grupo de controle (pessoas saudáveis). 

Considerado o segundo cérebro, o intestino é responsável por produzir diversos neurotransmissores, os mesmos também existentes no cérebro. “Se a microbiota não estiver integra, se o intestino não estiver funcionando corretamente, provavelmente haverá uma inflamação e a produção de neurotransmissores pode estar alterada também”, pontua Fernanda. Essa alteração pode estar associada ao transtorno de humor, visto que o sistema nervoso do cérebro e do intestino possui ligação direta.

Programado para apresentar os resultados finais em setembro 2021, a pesquisa identificará o grupo de bactérias prevalentes nos dois grupos. A aposta é encontrar maior número de bactérias Firmicutes em indivíduos diagnosticados com Transtorno Depressivo Maior; já quem tem Transtorno Bipolar poderá apresentar maior número da bactéria Actinobacterias.

Estudos como o proposto pela UCPel podem auxiliar no futuro a indicação de probióticos associados à medicação para aqueles pacientes que apresentarem depressão ou transtorno bipolar. “A partir disso, será necessário a realização de mais estudos para conseguir identificar se houve melhora ou não”, diz.  

 

Financiamento FAPERGS

 

Por ser inédita no estado e se tratar de um estudo populacional, a pesquisa submetida à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) foi aprovada no edital Auxílio Recém-Doutor. O papel potencial da microbiota intestinal na origem e/ou evolução dos transtornos do humor tem atraído considerável atenção de pesquisadores de todo o mundo.

Já existem estudos identificando que as interações entre os microrganismos intestinais presentes no ser humano podem desregular funções neuroimunes, responsáveis por exercer forte impacto no comportamento. Entretanto, na compreensão do eixo cérebro-intestino, as pesquisas em sua grande maioria são realizadas com animais ou então são estudos de revisão sistemática.

Os participantes da nova pesquisa proposta pela UCPel têm idade média de 30 anos e residentes na zona urbana de Pelotas. O grupo é formado por 230 indivíduos diagnosticados com transtorno bipolar ou depressão, todos integrantes de um estudo de Coorte realizado desde 2008 pela Universidade.

Assim como o estudo de Coorte, a pesquisa conta com a participação da Universidade Canadense McMaster, que será responsável pelas análises dos exames biológicos. Também integram os estudo os pesquisadores Ricardo Azevedo da Silva (UCPel), Luciano Souza (UCPel), Karen Jansen (UCPel), Amanda Neumann Reyes (UCPel), Flávio Kapczinski (McMaster) e Taiane de Azevedo Cardoso (McMastery). 

 

Redação: Rita Wicth – MTB 14101

 

 

 

 

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