Tese da UCPel analisa prevalência da obesidade infantil e impactos no ritmo biológico

Em Pelotas, 44,4% das crianças com idade entre 7 e 8 anos estão com excesso de peso. Esse foi um dos resultados obtidos na tese de doutorado da nutricionista Letícia Reis Pereira, no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel). O trabalho ainda apontou os fatores associados ao sobrepeso e a obesidade infantil e o impacto disso no ritmo biológico.

A pesquisa analisou 596 crianças de escolas públicas, com idade entre 7 e 8 anos, e seus cuidadores. Os resultados demonstraram que cerca da metade delas estavam com excesso de peso, sendo que a prevalência de sobrepeso foi de 20,4% e a de obesidade foi de 24,0%. Pertencer a famílias com índice econômico maior e ter um cuidador com excesso de peso foram apontados como os principais fatores associados.

De acordo com Letícia, o aumento da obesidade infantil é uma tendência mundial e identificar as causas é importante para a criação de estratégias eficazes de saúde pública. Segundo ela, é preciso levar em consideração os fatores individuais, familiares e cuidadores. “A obesidade aumenta o risco de várias complicações cardiometabólicas, pulmonares e psicossociais. Prevenir e traçar estratégias de intervenção precoce são a chave para reverter essa epidemia”, avaliou.

A fim de coletar os dados, a equipe composta por acadêmicos de Psicologia, e coordenada por Letícia, calculou o Índice de Massa Corpórea (IMC), aplicou questionários e realizou entrevistas, tanto com as crianças quanto com os cuidadores. A partir disso, foram observados hábitos e comportamentos dos participantes. Segundo ela, estudos indicam que o peso na idade adulta pode ser resultado das condições do início da infância. “A mudança de comportamento familiar é parte essencial da prevenção e tratamento do excesso de peso“, explicou a nutricionista.

    

Ritmo biológico

 

Dividido em dois artigos, a tese também avaliou a relação entre obesidade infantil e ritmo biológico – ciclo metabólico diário dos animais, que envolve inúmeros processos, como ciclo do sono e vigília, atividade física, padrão alimentar, comportamento social, produção de hormônios, regulação térmica, entre outros. Os resultados revelaram que crianças obesas apresentaram maior dificuldade em manter esse ritmo quando comparadas as não obesas.

De acordo com Letícia, a desregulação no ritmo biológico afeta inúmeros processos naturais, o que consequentemente prejudica a saúde. Como exemplo, destacou o ciclo do sono. Conforme ela, dormir mal ou de forma insuficiente influencia o balanço energético, podendo ocasionar excesso de peso. “Desregulaçãos do ritmo de sono, atividade, comportamento alimentar e social podem influenciar o peso das pessoas”.

A adoção de um estilo de vida saudável e a manutenção do ritmo biológico podem ser fatores importantes para a prevenção do sobrepeso e da obesidade. Para ela, atentar para a questão, através de intervenções de políticas sociais e mudanças no comportamento, é de extrema importância. Isso porque o excesso de peso na infância aumenta o risco do problema na fase adulta, diminuindo a expectativa de vida quando comparado aos demais familiares. “O excesso de peso tem impacto negativo no desenvolvimento normal da criança e na sua qualidade de vida, estando também associado ao estigma, discriminação e isolamento social”, avaliou.

A pesquisa intitulada “Sobrepeso, obesidade e ritmo biológico em escolares do município de Pelotas-RS” foi orientada pela professora da UCPel, Karen Jansen, e fez parte do projeto do PPGSC “Infância saudável em contexto: uma investigação multidisciplinar”.

 

Redação: Manuelle Motta

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